Outro dia, estava comprando lembranças para levar para família e amigos em São Paulo, quando vi um cartão “engraçadinho” com as palavras: “Se homens não existissem, mulheres não contariam calorias nem fariam exercícios e o mundo estaria cheio de mulheres gordas e felizes comendo bolo”. Fiquei irritada pensando que nitidamente foi escrito por um homem e deixei pra lá, mas na realidade, capaz de uma mulher ter escrito isso, no espírito vamos ser felizes, comer bolo e não ligar para homens e para o que acham; isso é problemático pra mim, porque parte da suposição de que nós mulheres nos arrumamos, fazemos dieta e nos maquiamos para sermos atraentes para os homens, e não por interesse próprio.
Pelo contrário, meu interesse em moda como uma forma de autoexpressão é independente do que os homens acham, na minha experiência a maioria dos homens gostam que a mulher seja menos ousada em suas escolhas de vestuário. Foi justamente essa lógica do blog Man Repeller, que começou mais de 10 anos atrás. Isso não é dizer que eu nunca me vesti pensando em agradar a um homem, nem que nunca fui criticada por uma escolha de moda que um homem fez zueira ou não “entendeu”, mas aos longos dos anos aprendi a confiar no meu próprio gosto e não ligar quando um homem não gosta de algo que estou usando.
Mesmo assim, sou vaidosa e dou muita importância para meu visual, como bem e faço academia, para ser saudável sim, mas na real, quero ser magra e ficar bem nas minhas roupas. Às vezes até demais. Eu sou a primeira a assumir que muitas vezes meu dia é definido pelo número na balança de manhã, não tenho orgulho de dizer isso, e sim, eu sei que é bobo. Essa semana eu subi quase dois quilos na balança e fiquei bem inchada, sei que foi uma combinação de vários exageros e hormônios, mas fudeu minha semana, não me senti nada bem e até desmarquei compromissos. Isso me faz uma má feminista? Talvez…
Será que autoaceitação é a última fronteira do feminismo?
A tendência de influenciadores com uma mensagem body positive está crescendo cada vez mais no Instagram. Parece que muita gente está de saco cheio de imagens altamente filtradas e falsas, criando níveis de “perfeição inatingível”. O que começou com selfies sem maquiagem abriu o caminho para posts reais, de barrigas e bundas com celulite, desmascarando essa camada de falsidade da internet. Eu respeito e eu aplaudo, e acho que para quem tem qualquer tipo influência online existe a responsabilidade de trazer esses assuntos. Por minha parte, o meio que encontrei é falar sobre esses temas. Eu sei que me cobro demais para ser magra e estilosa, mas dou muito mais peso para a opinião de uma mulher fitness ou uma editora de moda do que um homem.
Eu sei que ainda tenho coisas de autoestima para melhorar mas, por enquanto, gostaria de acreditar em um mundo onde a existência ou não de homens não afetaria minha vontade de treinar ou de comer bolo, do tipo Jay z, “tenho 99 problemas, mas um boy não é um deles”.