Vida de barbeiro, hip-hop, feminismo e abrir o próprio negócio: um papo com Wallan Firmo da Caballeros Barbería

Vida de barbeiro, hip-hop, feminismo e abrir o próprio negócio: um papo com Wallan Firmo da Caballeros Barbearia | EAMR

A Caballeros Barbería fica no segundo piso da icônica Galeria Metrópole, no centro de São Paulo, onde também fica nosso escritório. Foi assim que conheci Wallan Firmo, dono da Caballeros. Além de ser gente fina demais, ele tem uma visão super bacana e autêntica. Bati um papo com ele para saber mais sobre a vida de barbeiro, hip-hop, feminismo e o que o motivou a abrir seu próprio negócio há um ano. 

Vida de barbeiro, hip-hop, feminismo e abrir o próprio negócio: um papo com Wallan Firmo da Caballeros Barbearia | EAMR

EAMR: Você se formou em Comunicação Social. Como se aproximou do mundo da barbearia?

Wallan Firmo: Na época da faculdade estava sem muita grana para nada, mas gostava de fazer minha barba. Ia na drogaria comprar prestobarba e o refil era muito caro. Pensei, preciso achar uma alternativa para poder fazer a barba com custo benefício maior, então comprei uma navalha e comecei a fazer minha barba assim. Um dos momentos mais marcantes foi quando troquei um box de CDs por uma máquina de cortar cabelo e comecei a fazer meu próprio fade (degradê). Mas parei e continuei trabalhando em agência de propaganda.

EAMR: Como aconteceu essa mudança de carreira?

WF: Tudo aconteceu bem naturalmente, acho que a profissão te escolhe na verdade. Quando saí da agência, pensei, será que é agora mesmo? Eu fiz um curso de barbearia, e com tudo aquilo que tinha aprendido na raça, cortando meu próprio cabelo, cortando o cabelo de próximos, eu percebi que já era bem avançado para alguém que nunca tinha mexido com aquilo, então só tive que aperfeiçoar a técnica e fui atrás. Ficava fora de casa o dia inteiro, só vendo coisas de barbearia, então aquilo sempre estava dentro de mim, só ficou adormecido durante um tempo.

Teve um processo em que eu precisava entender que não era mais um profissional da propaganda ou da comunicação, era barbeiro. Tenho orgulho de falar que sou barbeiro. Sim, tenho uma empresa, mas ser empresário é uma pequena fração do meu dia-a-dia.

Vida de barbeiro, hip-hop, feminismo e abrir o próprio negócio: um papo com Wallan Firmo da Caballeros Barbearia | EAMR

“Teve um processo em que eu precisava entender que não era mais um profissional da propaganda ou da comunicação, era barbeiro. Tenho orgulho de falar que sou barbeiro”

EAMR: O que foi importante para você ao abrir sua própria barbearia?

WF: Quando comecei a conceitualizar a barbearia, minha linha foi, não quero nada que tenha numa barbearia tradicional. A música foi o ponto de partida, lá vai tocar hip-hop, rap, ragga, reggae, ritmos que são predominantemente negros. Isso foi uma coisa muita clara para mim: a música. Não queria ficar dentro de um lugar tocando música que não costumava ouvir. Fico o dia inteiro aqui dentro, tinha que ser uma coisa agradável. Não vou tocar estilo Rockabilly que não é uma coisa que eu curto. A melhor dica que recebi de um barbeiro foi “não faça uma coisa que não gosta”. Não adianta criar uma estética a que não pertence. Tudo que tem aqui faz parte do meu universo.

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As fotos são da Brina Magalhães

EAMR: Quantos barbeiros atendem na Caballeros Barbería?

WF: Atualmente temos três cadeiras e dois barbeiros. Já houve fases de ter mais profissionais trabalhando, mas neste momento, temos eu e Aline cortando cabelo, além de nosso estúdio de tatuagem no mezanino.

EAMR: Barbearias são tradicionalmente pensadas como lugares masculinos. Como foi recebido pelos seus clientes contratar uma barbeira mulher?

WF: Sempre quis ter uma barbeira mulher. E Aline apareceu, ela foi uma indicação e tinha exatamente o perfil da Caballeros Barbearia. Percebi isso desde nosso primeiro papo! Para nós é muito interessante ter uma mulher atendendo, mas sentimos também que para alguns clientes ainda é um tabu ter o cabelo cortado por uma mulher, mas com jeitinho vamos acertando a situação. E após cortar uma vez com ela, não quer mais deixar de cortar, pois ela manda muito bem, é extremamente competente. Não tem diferença entre homem e mulher, dois braços, dois olhos, não tem porque um cortar melhor que o outro, inclusive antes da Aline tivemos barbeiros que não cortavam tão bem como ela, então ela veio para ficar, é uma profissional excelente.

Ainda é uma barreira que existe a ser quebrada, estamos aqui há um ano e querendo quebrar essa barreira já. Prefiro moldar uma coisa em que acredito, perder um cliente ou outro que seja machista para mim está ok!

Apesar do nome “caballeros”, nunca quis um lugar que fosse parecido com as barbearias que tem por aí, nem um lugar que exclui pessoas. A gente sempre atendeu clientes mulheres. Essa coisa de ambiente masculino não é o que quero, sempre quis um espaço aberto para todos.

Vida de barbeiro, hip-hop, feminismo e abrir o próprio negócio: um papo com Wallan Firmo da Caballeros Barbearia | EAMR

EAMR: Qual foi uma das coisas mais legais que aconteceu neste último ano?

WF: Umas das coisas mais legais desse ano foi transformar clientes em amigos pessoais. Troquei muitas ideias com meus clientes, o famoso papo de barbearia, e muitos vieram me procurar para conselhos. Talvez por praticar o budismo, tenho uma espiritualidade diferente que atrai pessoas e ajudá-las a abrir um prisma menos católico de pensar pode ser útil.

“Prefiro moldar uma coisa em que acredito, perder um cliente ou outro que seja machista para mim está ok!”

EAMR: Você está lançando um curso de barbearia, conte mais sobre o conceito:
WF: Nossa terceira cadeira é dedicada a nossos alunos do curso, a ideia é que possam aprender num ambiente de barbearia real com profissionais capacitados e com bastante apoio. O aluno também pode fazer fotos e vídeos na barbearia para poder aprender e se promover. Nas escolas, vão te colocar num lugar que não se parece em nada com uma barbearia real, sem muita ajuda, e você aprende a cortar na tentativa e erro, daí ao chegar numa barbearia para trabalhar, não vai estar pronto. Aqui tentamos fazer diferente, já vai perder o medo de cortar num ambiente real.

O aluno vai atender clientes num ambiente certo, usar uma cadeira e material de qualidade, feito para uma barbearia e quando sair, já vai saber como atender a pessoa, desde como conversar, o que falar e o que não falar. Até criamos um módulo de psicologia. É um curso diferente, para formar pessoas prontas para o mercado mesmo. As inscrições já estão abertas no AQUI

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