A Bianca é de Ribeirão Preto, tem 25 anos e é dona da marca slow fashion moodyfash. Desde criança, já brincava de fazer desfiles em casa mixando as roupas do seu avô e do seu pai (ela ama usar roupa masculina – no gender é o futuro!). Mas nunca achou que seria boa o suficiente para trabalhar nesse mercado, até morar em Londres e nesse mundo se “agarrou com unhas e dentes!”
Com Londres e uma visão sustentável em comum, eu estava ansiosa por conversar com ela para descobrir mais!
EAMR: Você sempre trabalhou com moda?
Não. Eu sou formada em administração, comecei a trabalhar com marketing digital já na faculdade. Depois de formada, fui morar em Londres e fiz 2 cursos, sendo eles marketing fashion e personal stylist, mas mesmo assim não estava muito satisfeita. Eu queria trabalhar em brechó, e lá é cheio deles. Foi aí que consegui entrar, como gerente numa loja que amo, de um estilista africano/londrino que foi meu professor e amigo. Trabalhei com marketing para as marcas dele, mas estive presente no processo de criação e produção.
EAMR: Como surgiu a marca?
A moodyfash surgiu da minha indignação de ver as pessoas no Brasil fazendo de tudo para se vestir igual, para “estar na moda” sem pensar no que elas realmente são e no que sentem por dentro. Junto a isso, eu sou apaixonada pelo bairro em que morei em Londres (Hackney Wick), é um bairro muitoooo alternativo, e também por causa da loja em que trabalhei, onde via todos os dias pessoas nos mais diferentes estilos, e quanto mais autêntico e, posso até dizer esquisito, mais eu amava.
Portanto, quando voltei pro Brasil eu quis trazer um pouco das minhas ideias e sentimentos para as roupas, fluidas, oversized, geométricas…
EAMR: O que é slow fashion, e porque ele é importante?
O slow fashion é uma produção controlada em pequena e média escala, pensando na sobra do tecido, no seu impacto sobre o meio ambiente, contratando mão de obra local e bem remunerada, fazendo um produto de qualidade que vai durar mais, aumentando assim seu ciclo de vida.
É você saber quem produziu o seu produto, é saber que ele ajuda o desenvolvimento da economia local, que não contribui para o monopólio de grandes empresários estrangeiros.
EAMR: Aonde você quer levar a marca?
Pra ser sincera, não faço a mínima ideia. Eu acho que o que mais quero é que a minha marca toque a consciência das pessoas, para elas se expressarem e serem lindas da maneira delas, sem se preocupar com a opinião alheia. Quero que a alma delas sejam fluidas assim como a minha modelagem, que elas sejam efêmeras assim como minhas cores e estampas!
EAMR: Onde você busca inspirações para as coleções?
Seria mentira se eu não dissesse East London e seus moradores! Meus estilistas preferidos são Alexander McQueen e a rainha Vivianne Westwood. No Brasil, amo muito o jeito de se vestir e estampas do Dudu Bertolini. E o mais importante, André Carvalhal, que sem seus livros eu não saberia nada sobre moda, propósito e slow fashion.
EAMR: Qual é o carro chef da marca?
O kimono. Sempre gostei muito de usar kimonos e meu primeiro caso de amor por uma peça foi um kimono que vi na loja de Brick Lane, na qual eu trabalharia 6 meses depois.
EAMR: Na sua opinião, qual é o futuro da moda?
Na minha opinião o futuro da moda é ser mais MODA e menos ROUPA, onde o principal não é a busca desesperada pelo lucro a qualquer custo e sim a construção de um propósito. A riqueza vai ser cultural e o desperdício tende a diminuir.
EAMR: O que sustentabilidade significa pra você?
Sustentabilidade pra mim é entender que temos que pensar no ciclo de vida de um produto, que quando você compra uma peça você pode doar outra, que você pode reformar uma peça que não usa mais, que não é saudável correr atrás de todas as tendências e comprar algo porque está na moda e não porque você precisa. É reaproveitar o que você já tem (por exemplo, sempre busco fazer peças que podem ser usadas de dia, de tarde de noite, da praia para a balada). É entender o valor dos produtos, entender que produtos muito baratos com toda certeza custam muito caro pra outras pessoas e para o meio ambiente.
EAMR: Se a Moodyfash fosse uma mulher, quem ela seria?
Ela seria efêmera, instável, apaixonada por si própria, que olha além de seu próprio umbigo. Revolucionária, que grita ao mundo o que sente e quer.
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