Fast Fashion pode realmente ser sustentável?

fast fashion e sustentabilidade

Faz um tempinho que eu não me faço essa pergunta. Uns anos atrás, à luz de denúncias de trabalho escravo em fábricas de roupa que fornecem para grandes marcas, não só em países asiáticos mas também no Brasil, resolvi boicotar fast fashion completamente. Algo parecido com meus anos de boicote a uma rede global de café (outra história), não entrei nem pensei naqueles preços doces de fast fashion.

Na época, marcas grandes sofreram processos e danos de reputação, novos procedimentos de produção foram implementados, padrões de trabalho redefinidos e os diretos humanos dos funcionários virou um assunto polêmico.

Aos poucos, eu comecei a pedir uma coisa ou outra online, a comprar camisetas básicas e algumas peças fast fashion de tendência nas viagens para o exterior, me consolando que as coisas tinham mudado.

Compro uma grande percentagem das minhas roupas em lojas vintage e brechó, fato, mas não significa que nunca compre nada em lojas convencionais, e sem dúvida fast fashion apela ao meu bolso. No mesmo sentido em que prefiro apoiar coffee shops independentes com uma qualidade maior, às vezes sinto vontade de tomar aquele chai latte. 😉

fast fashion e sustentabilidade

Comecei mais uma vez a questionar a ética da produção na semana passada, por meio de uma matéria na Folha que entrevistou Ronaldo Fraga. Não consigo parar de pensar em uma frase do estilista, de que fast fashion “pinga sangue”.

Sabemos através de documentários e matérias que às vezes a produção de roupa é terceirizada para outras fábricas, sem que a própria marca saiba quem está produzindo suas roupas. Isso resulta em casos dramáticos como o de cartas implorando ajuda encontradas escondidas em roupas. Alarmante como isto é, nestes casos a exploração não vem direto da marca, mas alguém tem que se responsabilizar. 

Além da questão da possibilidade real da existência de trabalho escravo na produção de roupa para grandes marcas, há o aspecto de sustentabilidade que não pode ser ignorado.

A marca H&M, por exemplo, produz um relatório de sustentabilidade anualmente, demonstrando medidas tomadas para promover um processo de produção mais sustentável. Como algumas outras marcas, tem uma política de receber doações de roupa velha, de qualquer marca, para serem recicladas ou doadas em troca de vouchers de desconto na loja.

Enquanto o relatório deixa evidente que a marca está alcançando grande passos em reduzir seu impacto, não deixa de ilustrar que o objetivo e o modelo de fast fashion estão essencialmente em desacordo. Por natureza, fashion é um negócio de volume e exatamente isso é o que pesa em nosso planeta.

Mas é justo para as marcas Fast Fashion levarem toda a culpa? Sim, muitas vezes elas provam a ideia de que roupa e moda são descartáveis; com a globalização tudo parece mais acessível e a demanda, mais imediata.

Temos que nos perguntar: quantas outras marcas tem práticas nada sustentáveis, só que cobram mais pelo produto final? E isso não é limitado a roupa, inclui comida, água, energia e virtualmente qualquer outro tipo de bem de consumo.

A maneira em que nossa sociedade funciona significa que é muito mais fácil ir com o status quo do que realmente parar e questionar o jeito que consumimos.

fast fashion e sustentabilidade

E se começássemos a questionar a maneira como consumimos?

Mas qual seria a solução, morar em uma chácara e produzir nossos próprios alimentos e roupa? Nunca consumir nada que não seja produzido à mão?

Não tenho a solução, mas acredito que o paradigma está mudando para um consumo mais consciente, em que pensamos mais no preço real daquilo que estamos comprando e tudo que está envolvido nesse processo.

Este não é um manifesto moralista, caso alguém entenda assim, não sou perfeita, não tenho a solução perfeita e tenho peças fast fashion no meu guarda-roupa, sim… Fast Fashion como dilema continua.

Adoraria ouvir seus pensamentos neste assunto. Não deixe de comentar abaixo.

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